Varejo

Marcas de óculos investem no varejo

Fabricantes brasileiros de óculos têm investido na abertura de franquias, para melhorar sua rentabilidade com a venda direta ao consumidor. As companhias optam principalmente por quiosques, que têm custo de investimento mais baixo em comparação a lojas tradicionais.

A GO Eyewear, fabricante brasileira de óculos, começou a fazer a venda direta de suas marcas por meio da rede varejista Atitude Point, da qual é sócia majoritária. A Atitude Point foi criada em 2015 e passou a abrir unidades de franquia em 2017.

A varejista fechou 2017 com 41 unidades, sendo duas lojas e 39 quiosques, e receita de R$ 12,5 milhões. Para 2018, a meta é abrir 18 quiosques e elevar a receita para em 20%, para R$ 15 milhões. Marcelo Teixeira, gerente nacional da Atitude Point, prevê abrir unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O investimento inicial gira entre R$ 120 mil e R$ 150 mil e a taxa de retorno é de 16%.

“A GO tem milhares de modelos de óculos. É possível adaptar o mix de produtos em cada quiosque, de acordo com o perfil do shopping center e sem competir diretamente com as lojas que são clientes da fabricante”, afirmou Teixeira. O executivo também disse que, nas lojas tradicionais, a oferta de óculos de sol não passa de 5% do total de armações disponíveis. No quiosque, é possível oferecer mais opções ao consumidor.

Joyci Lin, presidente da Go Eyewear, disse que as vendas da fabricante no ano passado cresceram 25% em volume. O aumento deveu-se à expansão de dois dígitos nas vendas para grandes redes de óticas e ao fechamento de um acordo com a Kering, segunda maior empresa de luxo do mundo, atrás da LVMH, para a venda de marcas de luxo de óculos no Brasil. A GO passou a distribuir as marcas Gucci, Bottega Venetta, Saint Laurent, Puma, Alexander McQueen e Stella McCartney no Brasil.

“Nos últimos dois anos, os varejistas estavam desanimados. Mas hoje, as redes estão voltando a investir na abertura de lojas”, disse Joyci. Ela estima que as vendas totais da GO, incluindo venda para outros varejistas, crescerão 15% neste ano em volume. A executiva disse que vê crescimento mais forte principalmente em marcas de valor agregado mais alto e de luxo. “Os consumidores que em anos anteriores trocaram óculos por armações de preços mais baixos estão voltando a buscar produtos mais premium neste ano.”

A venda direta ao consumidor tem sido feita há mais tempo no Brasil pela Chilli Beans. Há 20 anos no mercado, a companhia fechou 2017 com 800 unidades no país, entre lojas e quiosques, e abertura de 73 unidades. Caito Maia, presidente da Chilli Beans, disse que a meta é chegar a 900 unidades neste ano. Em receita, a companhia cresceu 8% no ano passado, para R$ 653 milhões. Para 2018, a companhia prevê uma expansão de 8%, para 706 milhões.

“Estou empolgado com a entrada de 2018, as vendas no começo do ano ficaram acima da média do mercado”, afirmou Maia, sem citar números. O executivo disse que a companhia segue reforçando a oferta de óculos de preços mais baixos – R$ 139,80 o par. Com isso, tem ampliado as vendas. “No ano passado, essas linhas responderam por 9% das vendas totais. Neste ano, devem representar 15%”, disse Maia. Na Chilli Beans, 20% dos produtos são fabricados localmente e 80% são importados.

Setor cresceu 7,4% em receita em 2017, para R$ 21 bilhões. Para 2018, a expectativa é de um avanço de 10%

Outro fabricante em expansão é o Mercadão dos Óculos, de São José do Rio Preto (SP). Em 2017, a companhia abriu 60 lojas nas regiões Sudeste e Sul do país e atingiu uma receita de R$ 80 milhões. Gustavo Freitas, diretor-executivo do Mercadão dos Óculos, disse que a meta da companhia para 2018 é abrir pelo menos 70 lojas e obter um aumento de 50% na receita da rede, que já conta com 187 unidades. A meta é chegar em 2020 com 600 lojas em todo o país.

O Mercadão dos Óculos opera com lojas de 35 a 40 metros quadrados. O investimento inicial médio é de R$ 200 mil. “O que mais tem motivado a expansão de lojas hoje é a procura dos próprios franqueados para abrir mais lojas”, afirmou Freitas. O executivo disse que o mercado de óculos voltou a crescer desde o segundo semestre de 2017. E a rede apresenta aumento de vendas acelerado por causa da sua proposta de valor.

“O consumidor não paga por marca, por luxo do shopping. A marca própria nos permite oferecer preços mais competitivos”, disse o executivo. As armações são vendidas a partir de R$ 19,90. Os óculos prontos são vendidos a partir de R$ 50. O Mercadão dos Óculos produz em torno de 25% das linhas em São José do Rio Preto. O restante é importado da Ásia.

Outra fabricante que começou a investir no varejo é a Suncode, de óculos de sol. Fundada no fim de 2016 por Makoto Ikegame e Pedro Ortega, a Suncode fabrica óculos de sol em Campinas (SP) e vende exclusivamente pela internet. Os óculos são vendidos a preços a partir de R$ 155 o par. “Se fosse incluir royalties de fábrica, margem de importador, de distribuidor e da ótica, os óculos iam custar o triplo do preço”, disse Ortega. O comércio eletrônico foi aberto em 2017 e tem previsão de receita de R$ 2 milhões neste ano.

A decisão dos fabricantes ópticos de abrir lojas segue uma tendência mundial das empresas de bens de consumo. Não por acaso, a Luxottica, maior empresa mundial de óculos, comprou em janeiro de 2017 a Óticas Carol, por EUR 110 milhões (R$ 386,6 milhões). A Luxottica já era dona da rede Sunglass Hut no Brasil, com cerca de 100 lojas. A Óticas Carol é a maior rede do Brasil, com 950 lojas. Procuradas, a Óticas Carol e a Luxottica não quiseram comentar sobre seus resultados no país em 2017.

De acordo com a Abióptica, após dois anos de quedas, o mercado óptico brasileiro começou a se recuperar em 2017. O setor cresceu 7,4% em receita no ano passado, para R$ 21 bilhões. Para 2018, a expectativa é de um novo avanço de 10%, chegando a R$ 23 bilhões. Se alcançar esse resultado, o setor vai praticamente voltar aos níveis de 2014, quando atingiu um faturamento de R$ 23,6 bilhões. Os produtos importados representaram 92% das vendas.

O número de óticas em 2017 ficou estável em 23,4 mil unidades. Em 2015, o setor fechou 4 mil lojas. O número de empregados também ficou estável em 93,4 mil pessoas. “Neste ano, o setor não deve apresentar um crescimento muito forte, porque ainda há dúvidas sobre o ritmo da recuperação econômica. Além disso, as eleições presidenciais podem trazer incertezas para a economia a longo do ano”, afirmou Bento Alcoforado, presidente da Abióptica.

O executivo acrescentou que vê como tendência um avanço de redes de quiosques em shopping centers concentrados na venda de marcas próprias de óculos de sol e de grau. Vanessa Bretas, gerente de inteligência de mercado da Associação Brasileira de Franchising (ABF), disse que das 42 redes de franquias existentes no país de acessórios pessoais, 16 têm como foco principal a venda de óculos.

“Os quiosques são um formato importante para a expansão desse segmento porque têm um custo mais baixo em comparação a lojas tradicionais”, afirmou Vanessa. Enquanto uma ótica tradicional demanda um investimento inicial de R$ 200 mil a R$ 450 mil, um quiosque pode ser montado com R$ 80 mil a R$ 150 mil.

Fonte: Valor Econômico – Cibelle Bouças

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