O impacto da confiança no varejo, no consumo, nos investimentos, na renda e no emprego
O impacto da confiança no varejo, no consumo, nos investimentos, na renda e no emprego
A confiança dos consumidores atingiu seu nível mais alto desde janeiro de 2019, sinalizando melhorias no varejo e consumo, mas tem um comportamento distinto da confiança empresarial, que tende a declinar, impactando investimentos, geração de emprego e renda.
A confiança dos consumidores é fator crítico e influencia a propensão a comprar, consumir e impacta de forma direta o comportamento do varejo, mesmo quando a renda está sob pressão, pois pode ser usado o crédito.
E, normalmente, o crescimento da confiança do consumidor antecipa ciclos de expansão de negócios nos setores de varejo e consumo, alternando o comportamento de categorias de produtos.
Por outro lado, a confiança empresarial é fator determinante para o aumento ou redução dos investimentos privados, geradores de emprego e renda no País.
Por tudo isso, é importante acompanhar e, quando possível, explicar e antecipar o comportamento da confiança empresarial e do consumidor pelos impactos na economia e no mercado.
Esse foi um dos temas bastante debatido durante o Latam Retail Show 2023, em diversos painéis, em especial o final com a participação de Abílio Diniz. Quando analisamos o comportamento histórico mais recente desses indicadores, podemos entender os ciclos econômicos e o comportamento desses fatores e, ao mesmo tempo, antecipar o que deve acontecer no futuro mais próximo.
Como mostrado no gráfico abaixo, com base nos dados apurados pela FGV-Ibre nos últimos 18 anos, os dois indicadores, confianças empresarial e dos consumidores, caminharam de forma convergente, com exceção de poucos períodos: o mais forte deles, durante a recente pandemia, do início de 2020 até o início deste ano, quando a confiança dos consumidores caiu muito e a do setor empresarial manteve-se mais alta.
O crescimento do Índice de Confiança dos Consumidores neste momento é reflexo de uma conjugação positiva de fatores, que inclui a melhoria de curto prazo do emprego, da renda real, a redução da inflação, em especial na alimentação no lar, e o ampliado programas de auxílios sustentado pelo governo.
A deflação apurada na alimentação no lar tem forte e direto impacto nas classes de menor poder aquisitivo, que representam a maior parcela da população.
O elevado nível de taxas de juros no crédito, a limitada e cautelosa oferta de crédito, a alta inadimplência e o elevado nível de endividamento das famílias, que se alteraram de forma marcante durante o período da pandemia, conspiram para que o índice de confiança não seja ainda maior.
Os períodos de maior confiança do consumidor foram os de julho de 2007 a maio de 2008 e depois de abril de 2010 a dezembro de 2013, quando tivemos a maior expansão do varejo e do consumo na história mais recente do País e que marcaram o que ficou conhecido como Período de Ouro desses setores.
Do lado empresarial, temos no momento um cenário contrário. A redução das taxas de juros traz uma sinalização, sem dúvida, positiva, tanto quanto a melhoria do emprego e da ocupação, ainda que com forte crescimento do emprego informal.
Mas a ainda elevada taxa de juros inibe investimentos e o comportamento fica dividido. É reconhecida a importância do que foi feito na gestão dos juros e seu impacto na queda da inflação, que colocou o País em situação de destaque no cenário internacional, porém, a necessária e cautelosa redução das taxas inibe novos investimentos.
Para o setor empresarial mais ligado ao consumo e varejo, os mesmos dados positivos e negativos que impactam o consumidor geram um comportamento também mais cauteloso, em particular a elevada inadimplência e o nível de endividamento das famílias.
Mas o maior impacto na confiança empresarial é outro conjunto de fatores, de maior relevância nos médio e longo prazos, que envolve indefinições, dúvidas, impactos e consequências de temas fundamentais para o presente e o futuro do País.
Indefinições sérias sobre a reforma tributária e seus impactos diretos em determinados setores, em especial os de comércio e serviços, a retomada das contribuições sindicais dos empregados e a lentidão de tudo que envolve uma reforma administrativa de fato são algumas dessas preocupações.
Tanto quanto o intervencionismo do STF em matérias que confirmam aquela colocação de que no Brasil até o passado é incerto, cuja autoria, também incerta, é atribuída a Pedro Malan ou Gustavo Loyola.
Para não falar de bizarrices tributárias, como a não taxação de importações de produtos de baixo valor, em flagrante e iníqua concorrência com o varejo e a indústria nacionais, que não podem se beneficiar da mesma benesse promovida pelo populismo de curto prazo.
Outros temas relevantes, estruturais e estratégicos também não avançam e têm seu futuro incerto e indefinido. E tudo o que se consegue enxergar é, desde o começo, o compromisso maior com a próxima eleição e não com a nação.
Para despertar e potencializar a confiança empresarial que possa gerar investimento, renda e emprego, fatores fundamentais no desenvolvimento sustentável do Brasil, precisamos ter regras claras e transparentes, reforma administrativa que modernize o Estado, uma reforma do Judiciário, que o coloque a serviço do País e não de interesses políticos, e, principalmente, um projeto de longo prazo para a nação.
Para despertar e potencializar a confiança empresarial que possa gerar investimento, renda e emprego, fatores fundamentais no desenvolvimento sustentável do Brasil são precisas regras claras e transparentes, reforma administrativa que modernize o Estado, reforma do Judiciário que o coloque a serviço do país e não de interesses políticos e principalmente, um projeto de longo prazo para a Nação.
De forma cautelosa, acreditamos que nos curto e médio prazos a confiança do consumidor poderá ainda aumentar e melhorar desempenho do varejo e consumo, mas, enquanto persistir a miopia atual, a confiança empresarial não vai crescer e contribuir para o crescimento sustentável.
E permaneceremos reféns de uma equação antiga e superada no mundo moderno dependendo ainda mais da expansão e sustentação do Estado, com elevada tributação, em vez da dinâmica, iniciativas e visão do setor privado.
Vale refletir.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock
Fonte: Mercado e Consumo
Sobre Abióptica
A Abióptica – Associação Brasileira da Indústria Óptica atua desde 1997 como representante do segmento óptico brasileiro. São mais de 160 empresas associadas que respondem por mais de 95% do mercado das marcas comercializadas no país. Um dos principais objetivos da Abióptica é promover a união da indústria e varejo, fortalecendo a defesa dos interesses do consumidor e do setor.
Leia também: