Retomada das óticas fica para 2018 e setor deve se consolidar
Via Pedro Arbex
Nos últimos três anos o setor de óticas ‘sangrou’ com a crise: mais de 3 mil pontos de venda foram fechados entre 2014 e 2016, e no ano passado a queda no faturamento bateu os 22%. Daqui para frente, no entanto, a tendência é de uma gradativa retomada, a partir de 2018, e de uma consolidação e profissionalização maior, com o avanço consistente das grandes redes.
A avaliação é do presidente da Associação Brasileira da Indústria Óptica (Abióptica), Bento Alcoforado. “2017 será um ano de travessia, e a recuperação efetiva do setor deve começar apenas em 2018”, afirma. De acordo com ele, os resultados negativos amargados no ano passado e em 2015 (quando o setor retraiu 8,3%) estão ligados à instabilidade política e econômica, já que o histórico do ramo é positivo. “De 2006 a 2013 tivemos um crescimento médio anual de 18%. O potencial é muito grande e prova dessa pujança são os recentes movimentos de fusões e aquisições”, afirma, se referindo a aquisição da Óticas Carol maior varejista do ramo do País pelo grupo italiano Luxottica . A operação, que deve girar em torno de 110 milhões de euros, foi anunciada no final do mês passado e está sujeita a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Para Alcoforado, o movimento aponta para uma tendência que deve se acirrar nos próximos anos: a consolidação do setor. “De fato isso vai ocorrer, até porque o ramo hoje ainda é muito pulverizado e com uma concentração pequena”, afirma. Segundo ele, existem atualmente 23 mil pontos de venda. Desse total, as três maiores (Óticas Carol, Óticas Diniz , e Chilli Beans) representam apenas cerca de 12%.
O diretor de Inteligência de Mercado do Grupo GS& Gouvêa de Souza, Eduardo Yamashita, acrescenta que a consolidação do setor de óticas é uma das mais baixas dentro do varejo. Segundo um estudo realizado pela consultoria, o nível de consolidação no setor de bens duráveis é de 51%, no de alimentação de 36%, enquanto no de óticas fica próximo de 15%. “É um mercado que tende a continuar se consolidando, tanto de maneira orgânica quanto por fusões e aquisições”, diz.
De acordo com ele, outro movimento que deve se acirrar influenciado justamente pelo crescimento das grandes redes é a profissionalização das pequenas varejistas. Ele afirma que conforme as maiores vão expandindo e ganhando mercado, as lojas menores são obrigadas a melhorar sua produtividade e gestão. “A consolidação dos grandes grupos faz com que essas varejistas de menor porte tenham que correr atrás. As que não melhorarem sua profissionalização e seu nível de maturidade simplesmente vão morrer”, afirma Yamashita.
Exemplo desse movimento, a ótica Santo Grau, que possui hoje duas unidades em Santo André (SP), iniciou este ano a expansão através do franchising e investiu recentemente na melhoria do atendimento e da gestão. “Vimos que precisávamos crescer para disputar uma fatia desse mercado. As dificuldades quando você é pequena são muito maiores”, afirma o sócio-fundador da companhia, Ricardo Aggio.
Assim como Yamashita ele também diz que o setor caminha para uma profissionalização maior.“O mercado está mudando muito e aquelas óticas que não se profissionalizarem ou vão ser incorporadas por alguma rede ou vão fechar as portas”, diz. Os planos da varejista para este ano ainda são tímidos e a expectativa é abrir duas franquias. Até 2021, no entanto, a rede vislumbra um universo de cerca de 51 unidades por meio do modelo.
A rede de Óticas Mercadão dos Óculos, que possui hoje 113 lojas espalhadas pelo Brasil, também busca ganhar ainda mais espaço dentro desse mercado. De acordo com o diretor de expansão da rede, Gustavo Freitas, a intenção da empresa é fechar este ano com pelo menos 220 operações. Segundo ele, a companhia viu no ano passado uma alta de 15% no faturamento médio por unidade e espera manter a mesma taxa para 2017. Freitas explica que um dos principais fatores que contribuiu para o desempenho bom da rede foi o foco em produtos com um tíquete médio menor. “95% das nossas vendas são de itens de marca própria. Isso nos ajuda porque o custo é menos oneroso, e conseguimos baratear bastante os produtos”, afirma. Para isso, ele conta que a empresa possui uma fábrica própria e mais duas “fábricas associadas fora do País.”
A rede Santo Grau também aposta nos produtos de marca própria e, segundo Aggio, a categoria representa cerca de 60% das vendas totais das duas lojas. De acordo ele, o ideal seria trabalhar com um percentual maior de marcas próprias, pelos custos menores. “Para trabalharmos só com a categoria nossa marca teria que ser mais forte. Por enquanto não é possível”, afirma.
De acordo com o diretor de marketing da Grandvision By Fototica, Murillo Piotrovski, a rede tem investido forte em marcas exclusivas “para ampliar o seu portfólio e a oferta para os consumidores, que estão cada vez mais exigentes”. A rede possui hoje cerca de 100 operações.
No ano passado, conta Piotrovski, a rede iniciou a expansão através de franquias e abriu 17 novas unidades. Para este ano, ele afirma que a expectativa da companhia é fortalecer ainda mais a presença em cidades onde a empresa já possui lojas.