Nova cobertura pode reduzir o transplante de córnea no país, além da perda da visão por diabetes e outras doenças na retina.A atualização da cobertura obrigatória dos convênios médicos que acaba de ser publicada pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) inclui três procedimentos que fazem grande diferença para a saúde ocular do brasileiro. Um deles é o crosslinking. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier, primeiro hospital oftalmológico do Hemisfério Sul, evidências científicas mostram que esta terapia é a única capaz de interromper a evolução do ceratocone. “A doença geralmente surge na juventude, afina e deforma a córnea. No Brasil ainda é a maior causa de transplante de córnea e quando não recebe o tratamento adequado pode se tornar uma doença bastante limitante” afirma o especialista.
Prova da relação entre o ceratocone e o transplante é a diminuição do número de brasileiros que precisou passar por este tipo de procedimento conforme os registros anuais ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) desde que o crosslinking passou a ser aplicado no país. Queiroz Neto afirma que isso só foi possível porque a terapia barra a deformação da córnea, aumentando sua resistência em até três vezes. É um procedimento ambulatorial realizado com anestesia local em que o cirurgião aplica na superfície da córnea vitamina B2 (riboflavina), associada à radiação ultravioleta. Para o especialista os registros da ABTO só não foram mais positivos porque muitos adiaram o tratamento por causa da crise econômica. Resultado: Os dois últimos registros anuais mostram aumento dos transplantes.
12% temem o tratamento, diz pesquisa
Outro problema encontrado em uma pesquisa conduzida por Queiroz Neto com 315 portadores de ceratocone é o medo do procedimento revelado por 12% dos participantes. O especialista afirma que o tratamento é bastante seguro, além de interromper a evolução do ceratocone em 90% dos casos. Ele estima que entre os pacientes atendidos cerca de 4 em cada 10 também experimentam melhora da visão.
“Passar por transplante tem riscos maiores. Por isso, prevenir ainda é o melhor remédio”, afirma.
Barreiras à perda irreversível da visão
Queiroz Neto ressalta que as outras duas novas terapias no rol de procedimentos dos convênios são indicadas no diagnóstico e tratamento de alterações no polo posterior do globo ocular que estão em alta no Brasil por causa do envelhecimento da população. Uma delas é a injeção intraocular com antiangiogênicos um tipo de medicação mais bem tolerada e menos tóxica que a quimioterapia e a radioterapia. É indicada para tratar retinopatia diabética que aumenta em 26 vezes o risco de cegueira entre diabéticos, degeneração macular e outras alterações vasculares no fundo do olho. Apesar da perda da visão central que caracteriza a degeneração macular ser irreversível o especialista afirma que o bom acompanhamento médico permite administrar melhor os fatores de risco.
A outra terapia, destaca, é a OCT (Tomografia de Coerência Óptica), exame que permite a visualização detalhada da retina e do disco óptico. “É uma tecnologia fundamental para o bom acompanhamento do glaucoma, alterações na retina e nervo óptico”, afirma. Só é efetiva, ressalta, quando o paciente está livre da catarata que impede a visualização do fundo do olho.